quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

ADEUS , ANO VELHO ....BEM-VINDO 2010!


2009 FOI UM ANO BOM.

NUMA RETROSPECTIVA MAIS INTIMISTA , PRÁ MIM, FOI BOM.

CRESCI, APRENDI, AMADURECI, AMEI, POETEI, FIZ NOVAS AMIZADES, CONHECI AMIGAS VIRTUAIS , TIVE TEMPO PARA ESTAR COM MINHAS FILHAS, MINHA FAMÍLIA, CONFRATERNIZEI, DOEI, RESPEITEI....


MAS, E O HOMEM , EM GERAL?


A HUMANIDADE...SERÁ QUE HOUVE RESPEITO ENTRE AS PESSOAS, AMOR, PAZ, AMIZADE?

SERÁ QUE TIVERAM TEMPO PARA CONFRATERNIZAR, AMADURECER, APRENDER?


ABRINDO DIARIAMENTE AS JANELAS QUE ME LIGAM AO MUNDO, NÃO FOI ISSO QUE VI.


ESPERO QUE EM 2010, 2011, 2012...TALVEZ, NUM FUTURO NÃO MUITO DISTANTE...

A HUMANIDADE APRENDA A SER HUMANA, TAL QUAL IMAGEM DE DEUS, SEU CRIADOR...


QUERO VIVER 2010 COM MUITA SAÚDE, ALEGRIAS, PAZ NO MEU CORAÇÃO...

AMAR, ME DOAR, RESPEITAR, APRENDER....


QUE MEUS FAMILIARES , AMIGOS E PESSOAS QUE CONHEÇO ESTEJAM AO MEU LADO, PARA MAIS ESSA JORNADA NO TEMPO: UM ANO!


QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS, SEUS FILHOS!


UM 2010 AZUL! DA COR DO CÉU!


UM ABRAÇO FRATERNAL DESSA POETISA QUE TEM COMO DEFEITO AMAR....

sábado, 26 de dezembro de 2009

BALANÇO DE NATAL


Lá se foi mais um ...NATAL!

Correrias, compras, pessoas comprometendo suas finanças em presentes, acidentes de carro, mortes....

Encontros, desencontros...

Amor, desafetos...

União, ódio...

Verdades, mentiras...

Loucuras, ilusões...

Indiferenças, perdões....


Onde se perdeu o significado dessa data tão importante?


Talvez quando o homem inventou o comércio , lendas, capitalismo , poder, ambição?....


Talvez quando deixamos de olhar, cada um de nós , para dentro de si e refletir sobre essa data?...


Ah! o Natal!....


E recebemos mensagens, cumprimentos, presentes... momento de lembrar de algum parente , amigo, ou vizinho que há tempo a gente nem lembrava....

E compartilhamos as alegrias, bons momentos, reunimos a família, comemos, trocamos presentes, alguns bebem...até demais!


E alguns ficam perdidos pelas ruas, calçadas , sem familia, sem amor, sem dinheiro, sem esperança, sem Deus ...


E outros, viajam, fazem cruzeiros, hospedam- se nos melhores hotéis, compram carros, apartamentos, casas para presentearem....jóias caríssimas...mas essas pessoas tem Deus?....


Onde se perdeu o significado do Natal?
Quando parei de ajudar meu próximo, de perdoar, de amar, de olhar para além de mim?
Quando deixei de ser verdadeiro, amigo, humano, cristão?
Onde está o verdadeiro e puro significado do NATAL?
Estou refletindo, ainda...ouvindo meu coração...


STELLA VIVES
26/12/2009
MOMENTOS DE REFLEXÃO

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PLANETA EMOÇÃO ENGAJADO NO PROJETO PAQUETÁ - ILHA DA POESIA







Iniciativa de alguns poetas cariocas, tendo como aliados todos os poetas brasileiros , o PORTAL ANTONIO POETA está à frente dos trabalhos junto à ONG PAQUETÁ-ILHA DA POESIA.



O PLANETA EMOÇÃO não poderia deixar de estar presente, porque a ilha é um planeta poesia...em belezas naturais, em tradições emocionais, lugar onde se sente no ar a vida em forma de poesia.



Para tanto, essa poetisa , que não conhece a ilha de Paquetá, mas estarei em breve levantando as velas de minha nau para lá, descobri alguns encantos e os transformei em poesia, versos dedicados à
ILHA DA POESIA , PAQUETÁ.
Formosa, por Deus desenhada
na forma de um violão,
o mar vem e te abraça,
nascendo a mais linda canção.

Ilha, em teus montes quero sonhar,
como sonham os homens ao seio
da mulher amada...
Descansar à sombra dos flamboyants
e do Rei Baobá....
Ilha dos poetas, dos cantores...
Ilha por todos desejada!
O Bom Senhor Jesus do Monte
Te abençoa, estrela do mar...
E a lua ilumina os corações
daqueles que vem buscar
as mais profundas inspirações...
Ilha dos estudantes,
dos apaixonados,
dos amantes...
Ilha carioca,
ilha mulher...
Encantada com tua beleza,
quero fazer meus versos,
prá te ver,
para sempre,
brilhar!

Stella Vives
Homenagem à Ilha de Paquetá
27/11/2009






segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

DEIXAI ENTRAR A MORTE....


" SOU A CHARNECA RUDE A ABRIR EM FLOR!"





"PONHO-ME, ÀS VEZES, A OLHAR PARA O ESPELHO E A EXAMINAR-ME, FEIÇÃO POR FEIÇÃO: OS OLHOS, A BOCA, O MODELADO DA FRONTE, A CURVA DAS PÁLPEBRAS, A LINHA DA FACE...E ESTA AMÁLGAMA GROSSEIRA E FEIA, GROTESCA E MISERÁVEL, SABERIA FAZER VERSOS? AH, NÃO! EXISTE OUTRA COISA...MAS O QUÊ? AFINAL, PARA QUE PENSAR? VIVER É NÃO SABER QUE SE VIVE. PROCURAR O SENTIDO DA VIDA, SEM MESMO SABER SE ALGUM SENTIDO TEM, É TAREFA DE POETAS E DE NEURASTÊNICOS. SÓ UMA VISÃO UMA VISÃO DE CONJUNTO PODE APROXIMAR-SE DA VERDADE. EXAMINAR EM DETALHE É CRIAR NOVOS DETALHES. POR DEBAIXO DA COR ESTÁ O DESENHO FIRME E SÓ SE ENCONTRA O QUE SE NÃO PROCURA. PORQUE ME NÃO ESQUEÇO EU DE VIVER...PARA VIVER?"
(20 DE ABRIL DE 1930, ANO EM QUE FLORBELA ESTAVA RECOLHIDA EM SUA CASA DE MATOSINHOS, DOENTE, AFASTADA DE TUDO E TODOS.)
DEPRIMIDA, COM PROBLEMAS DE PULMÃO, ESCREVEU O "DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO", ONDE COLOCA O SEU MAIS PROFUNDO EU. HÁ DIAS EM QUE PREFERIA VIVER, ESCREVE...EM OUTROS, CHAMAVA A MORTE , CONSCIENTE OU INCONSCIENTEMENTE, ISSO FICA A CRITÉRIO DE CASA UM QUE LER SUA VIDA E OBRA.

AFINAL, QUEM ENTENDE A ALMA DOS POETAS?


"AI, as almas dos poetas

Não as entende ninguém;

São almas de violetas

Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,

Como as estrelas no ar;

Sentem o vento gemer

Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito

Dores amargas e secretas

É que em noites de luar

Pode entender os poetas.


E eu que arrasto amarguras

Que nunca arrastou ninguém

Tenho alma prá sentir

A dos poetas também!"

(Poetas - Livro Trocando Olhares)

"A MORTE DEFINITIVA OU A MORTE TRANSFIGURADORA? MAS O QUE IMPORTA O QUE ESTÁ PARA ALÉM? SEJA O QUE FOR, SERÁ MELHOR QUE O MUNDO! TUDO SERÁ MELHOR DO QUE ESTA VIDA!" (20 DE NOVEMBRO DE 1930 - DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO)


ENTÃO, BELA, O QUE TE RESTA NESSA VIDA? DOENTE, SÓ, CONVIVENDO COM FANTASMAS DO PASSADO E NÃO VISLUMBRANDO UM FUTURO MELHOR.....O SUICÍDIO SERIA A MELHOR FORMA , O MELHOR ATO PARA SAÍRES DE CENA?


"Deixai entra a Morte, a Iluminada,

A que vem para mim, prá me levar.

Abri todas as portas par em par

Com asas a bater em revoada.


Que sou eu neste mundo? A deserdada,

A que prendeu nas mãos todo o luar,

A vida inteira, o sonho, a terra, o mar

E que , ao abri-las, não encontrou nada!

Ó Mãe! Ó minha Mãe, pra que nasceste?

Entre agonias e em dores tamanhas

Pra que foi, dize lá, que me trouxeste


Dentro de ti? Pra que eu tivesse sido

Somente o fruto amargo das entranhas

Dum lírio que em má hora foi nascido!..."

(Deixai entrar a Morte - livro RELIQUIAE)


POETA, nasceste numa época e estivestes á frente dela. Certamente tuas conquistas, tua vida, não foram em vão. Hoje, nós, mulheres e poetisas, agradecemos a tua força e coragem . O mundo reconhece teu valor. E precisastes morrer jovem prá isso acontecer...

"A MINHA ALMA É O TÚMULO PROFUNDO ONDE DORMEM , SORRINDO , OS DEUSES MORTOS!"
Florbela abre, na morte, a sua alma , em que os deuses nela tumulados lhe pedem, sorrindo, que os acorde. Despertos, ela vê que são seus semelhantes. É a certeza do caminho para a casa dasua imortalidade.

02 /12/ 1930 - "E NÃO HAVER GESTOS NOVOS NEM PALAVRAS NOVAS!"DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO. ÚLTIMAS PALAVRAS ESCRITAS POR FLORBELA, ENCONTRADA MORTA NO DIA DE SEU ANIVERSÁRIO, EM 08 DE DEZEMBRO DE 1930, AOS 36 ANOS DE IDADE.








A AMANTE DO AMOR INCERTO








FLORBELA apresentava predicados contraditórios: ora se dizia a virgem, a castelã, irmã Sóror Saudade, a casta , a pura; ora era a caçadora, a mulher voluptuosa cheia de sedução e sensualidade que falava na morte, em trevas e luz ....

Causava-lhe repulsa o casamento, a posse do macho sobre a fêmea , a qual achava brutal. No entanto, teve tres casamentos mal-sucedidos. Em uma carta a sua amiga Júlia Alves escreve:

"Acho o casamento uma coisa revoltante! E isot por uma única razão, mas que prá mim é tudo, para mim e para aquelas mulheres que não são apenas fêmeas, para todas as delicadas., para todas que tem pudor , espírito e consciência. Essa razão éa posse suprema e grande lei da Natureza que, no entanto, revolta tudo quanto tenho de delicado e bom no íntimo da minha alma."

Não posso deixar de lembrar que Florbela nutria uma grande paixão, quase incestuosa, pelo irmãoApeles, mas que nunca ficou comprovada , a não ser o que se depreende de seu livro Máscaras do Destino e algumas poesias e cartas. No entanto, Florbela que sempre procurou o amor , incessantemente, praticamente morreu junto com o irmão. Desde a morte brutal de Apeles, ela passou a piorar o estado de saúde e a se recolher ....

A sua índole dianesca à caça, traduz bem a dualidade sedução-castidade, flagrante em sua poesia: "Para que os corpos vis te não desejem,
Hei-de dar-te o meu corpo e a boca minha
Prá que bocas impuras te não beijem..."

CASTELÃ DA TRISTEZA ( do livro de Mágoas)

Altiva e couraçada de desdém
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor...
E nunca em meu castelo entrou alguém!
Castelã da Tristeza, vês?...A quem?!...
- E o meu olhar é interrogador -
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr...
Chora o silêncio ...nada...ninguém vem...
Castelã da Tristeza, por que choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
A sombra rendilhada dos vitrais?...
À noite, debruçada pelas ameias,
Por que rezas baixinho ? Por que anseias?...
Que sonhos afagam tuas mãos reais?
E a mulher voluptuosa, escondida por detrás da pura, casta....

"No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
( soneto VOLÚPIA do livro CHARNECA EM FLOR)
Afinal, quem foi Florbela Espanca? Uma mulher obstinada , feminista, à procura do amor perfeito, ou uma enclausurada em suas paixões poéticas, amores platônicos, ou talvez, escondidos, que só viriam à tona nas palavras de amor de seus sonetos?
Teria ela contado em seus versos a sua vida, exposto seu íntimo, ou apenas o fez para chamar a atenção de uma sociedade que não dava importância às mulheres?
Bela, como a chamavam os íntimos, era doce ou uma muher que vestia máscara?
Não foi feliz e buscava na morte, sua companheira ideal , talvez a vida que gostaria de ter vivido na sua terra, ao lado do irmão, ou do seu amante, figura até então desconhecida....
QUEM PODE ENTENDER A ALMA DOS POETAS?

domingo, 6 de dezembro de 2009

MEUS AIS: FADO E PORTUGAL!

CASA ONDE VIVEU BOA PARTE DE SUA VIDA EM ÉVORA


REGIÃO DAS CHARNECAS, SOLO ÁRIDO E PLANTAS RASTEIRAS


FLORBELA não apenas escrevia para e sobre o o amor, a morte, a angústia....como boa filha de Portugal, amava os lugarejos onde nasceu, viveu , para onde viajava em seus momentos íntimos ...e adorava o fado, a quem tinha como a canção dos desesperados, um amigo....


O FADO (do livro TROCANDO OLHARES)

Corre a noite, de manso, num murmúrio,
Abre a rosa bendita do luar...
Soluçam ais estranhos de guitarra...
Oiço,ao longe, não sei que voz chorar...
Há um repoiso imenso em toda terra,
Parece a própria noite a escutar ...
E o canto vai subindo e vai morrendo
Num anseio de saudade a palpitar!
É o fado . A canção das violetas:
Almas de tristes, almas de poetas,
Pra quem a vida foi uma agonia!

Minha doce canção dos deserdados,
Meu fado que alivias desgraçados,
Bendito sejas tu! Ave-Maria!...


Apaixonada pela terra onde nasceu, as charnecas de Vila Viçosa, Florbela sentia-se próxima ao campo, pois ele lhe trazia a liberdade que ela tanto buscava, nos sonhos, na poesia ... Por vezes, depreende-se que Florbela se misturava à própria paisagem , numa identidade única.

CHARNECA EM FLOR ( soneto que deu título ao livro)

Enche o meu peito , num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou , Amor, Soror Saudade ...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto , a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

ALENTEJANO

Deu agora meio-dia; o sol é quente
Beijando a urze triste dos outeiros .
Nas ravinas do monte andam ceifeiros,
Na faina, alegres , desde o sol nascente.
Cantam as raparigas meigamente.
Brilham os olhos negros, feiticeiros .
E há perfis delicados e trigueiros
Entre as altas espigas d ´oiro ardente.
A terra prende aos dedos sensuais
A cabeleira loira dos trigais
Sob a bênção dulcíssima dos céus.

Há gritos arrastados de cantigas ...
E eu sou uma daquelas raparigas ...
E tu passas e dizes : "Salve-os Deus! "
( retirado do livro SOROR SAUDADE)

sábado, 5 de dezembro de 2009

A MAIOR SONETISTA DE TODOS OS TEMPOS



SONETOS....O QUE SÃO SONETOS?
SÃO POEMAS EM FORMA DE CANÇÃO, PORQUE TEM FORÇA NA RIMA...

SHAKESPEARE , ALÉM DE TEATRÓLOGO, ERA UM SONETISTA....CAMÕES, EM PORTUGAL...E FLORBELA ESPANCA, COM SEUS LINDOS SONETOS VERSEJANDO O AMOR E A PAIXÃO, A ÂNSIA PELO VIVER E A BUSCA PELO MORRER...
OS SONETOS TRADUZEM AS MAIS ÍNTIMAS CONFISSÕES NA OBRA DE FLORBELA.

ALÉM DE SONETISTA , ELA NOS BRINDOU COM CRÔNICAS, CARTAS, HISTÓRIAS DE AMOR.

EMBORA TENHA PERTENCIDO AO PERÍODO CHAMADO DE ROMANTISMO , FLORBELA FUGIA UM POUCO DOS PARÂMETROS DA MÉTRICA POÉTICA. IA DOS VERSOS ALEXANDRINOS , SONETOS AOS POEMAS DE RIMA PURA E SIMPLES DE QUATRO ESTROFES.

MAS O QUE CHAMA A ATENÇÃO NESSA POETISA, É O LINGUAJAR , A SINGULARIDADE NA MANEIRA DE ESCREVER O SONETO COMO CANÇÃO.

CADA VERSO QUE TRAZ, DESENHA O LOCAL ONDE ESTÁ , ONDE VIVE, A SITUAÇÃO QUE ENFRENTA, O QUE PASSA EM SEU ÍNTIMO....USA DE METAMORFOSES, DE METÁFORAS, TUDO DENTRO DE UMA SINTONIA QUE TRADUZ MELODIA.

ALGUNS CRÍTICOS LITERÁRIOS A JULGARAM POR POBREZA DE TEMAS, POR FALAR SEMPRE EM AMOR, MORTE, ANGÚSTIA, ÂNSIA, LOUCURA....

MAS FLORBELA RETRATOU SEU PORTUGAL, SUA TERRA , O FADO, O TEMPO EM QUE VIVEU....OS LUGARES ONDE PISOU...COM UMA MAESTRIA DIGNA DE UMA BATUTA QUE ELA MANEJAVA COMO NINGUÉM: A CANETA TINTEIRO.

DONA DE UMA CALIGRAFIA MARAVILHOSA, MUITOS POEMAS ORIGINALMENTE MANUSCRITOS, FORAM ENCONTRADOS EM CASA DE AMIGOS, EX-MARIDOS E ATÉ MESMO NAS ESCOLAS ONDE ELA LECIONAVA .

HOJE, PORTUGAL SE CURVA A ESSA POETISA , SONETISTA , PRECURSORA DO FEMINISMO... O MUNDO CONHECE A MULHER QUE, NA ÉPOCA, ERA A INCOMPREENDIDA....COMPREENDENDO-A ATRAVÉS DE SUAS PALAVRAS, SEUS SENTIMENTOS EXPOSTOS EM CADA MÚSICA , SONETOS DE SUA ALMA...

DURANTE A VIDA INTEIRA, DISSE ELA, PROCUROU O VERSO PURO QUE TRADUZISSE O QUE SENTIA. HOJE, SABEMOS QUE ESCREVEU MUITO MAIS E ENTENDEMOS QUE SEUS VERSOS NOS TOCAM, PASSANDO EXATAMENTE AQUILO QUE ELA QUERIA TRANSMITIR.


O MEU SONETO


Em atitudes e em ritmos fleumáticos,
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos os brocados fúlgidos , hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos ...

E os meus olhos serenos, enigmáticos,
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos , tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos...
As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d ´amor trazem de rastos...
E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!...


TORTURA

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso d´alto pensamento,
E puro como um ritmo d ´oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!...
São assim ocos, rudes,os meus versos;
Rimas perdidas , vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros , com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse , a chorar, isto que sinto!!
( do LIVRO DE MÁGOAS)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

FLORBELA, A INCOMPREENDIDA




"O MEU TALENTO! DE QUE ME TEM SERVIDO? NÃO TROUXE NUNCA ÀS MINHAS MÃOS VAZIAS A MAIS PEQUENA ESMOLA DO DESTINO. ATÉ HOJE NÃO HÁ NINGUÉM QUE DE MIM SE TENHA APROXIMADO QUE NÃO ME TENHA FEITO MAL. TALVEZ CULPA MINHA, TALVEZ...O MEU MUNDO NÃO É COMO O DOS OUTROS; QUERO DEMAIS, EXIJO DEMAIS; HÁ EM MIM UMA SEDE DE INFINITO, UMA ANGÚSTIA CONSTANTE QUE NEM EU MESMA COMPREENDO, POIS ESTOU LONGE DE SER UMA PESSIMISTA; SOU ANTES UMA EXALTADA, COM UMA ALMA INTENSA, VIOLENTA, ATORMENTADA, UMA ALMA QUE SE NÃO SENTE BEM ONDE ESTÁ, QUE TEM SAUDADES...SEI LÁ DE QUÊ!"

(Palavras de um auto-retrato de Florbela.)

Florbela, a figura feminina mais importante da Literatura Portuguesa, tinha em suas poesias exacerbados impulsos eróticos e uma sensibilidade que corresponde a um diário íntimo.
Escreve sobre o amor, sempre o amor...que a ludibriou: "Procurei o amor que me mentiu....",e esperava e exigia muito mais da vida : "...pedi a vida mais do que ela dava...".

Ela só tinha uma certeza: queria amar e ser amada.

Essa alma inquieta desde a infância, talvez por ser filha ilegítima, deu-lhe forças para mostrar ao mundo a alma verdadeira de uma mulher. Ela não teve freios: de filha só reconhecida após a própria morte, de esposa abandonada por não ser fértil, de irmã apaixonada , poetisa não reconhecida em seu meio, recolheu de tudo um pouco para trazer à baila os limites do sublime...do AMOR!

EM VÃO ( do livro RELIQUIAE)

Passo triste na vida e triste sou
Um pobre a quem jamais quiseram bem!
Um caminhante exausto que passou,
Que não diz onde vai nem donde vem.

AH! Sem piedade, a rir, tanto desdém
A flor da minha boca desdenhou!
Solitário convento onde ninguém
A silenciosa cela procurou!
E eu quero bem a tudo, a toda gente!...
Ando a amar assim, perdidamente,
A acalentar o mundo nos meus braços!
E tem passado, em vão, a mocidade
Sem que no meu caminho uma saudade
Abra em flores a sombra dos meus passos!








quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A MULHER FLORBELA




FLORBELA casou-se muito jovem, pela primeira vez. Foi casada por tres vezes e não foi bem sucedida nos matrimônios. A mulher Florbela enxergava o casamento como uma posse, do marido sobre a esposa, e não concordava com isso. Teve dois abortos espontaneos. Ainda muito jovem, descobriu que tinha um problema de esclerose. A partir da morte de seu querido irmão, num acidente aéreo, ela passa a ter problemas de depressão. Embora fosse a primeira mulher a cursar a Faculdade de Direito , em Lisboa, ser professora e tradutora de francês, escritora em diversos jornais e revistas da época, Florbela tentou, sem êxito, fazer sucesso com dois livros: O LIVRO DE MÁGOAS e SÓROR SAUDADE.


Era ainda motivo de chacotas pelos homens , que a chamavam de DON JUAN DE SAIAS, devido ao seu linguajar pouco comportado para uma senhora da sociedade portuguesa , não bastasse o fato de ser uma mulher descasada. Corriam comentários até de seu amor pelo irmão, ou talvez, um amante escondido , referido nas várias poesias que escreveu.


Ao irmão, dedicou a obra Máscaras do Destino, livro de contos publicado após sua morte, em 1931.
Escrevia cartas aos amigos, confidenciando suas amarguras....acervo esse que foi encontrado postumamente, em casa de seu último marido, o médico Mário Lage. Alias, foi ele quem cuidou de Florbela na sua doença e também quando ela veio a se recolher, por um ano, em sua casa de Matosinhos, perto do mar.

Lá, a mulher que declarara guerra ao machismo com seu comportamento irreverente, suas obras feministas que a levaram a ser perseguida pelo regime ditatorial de Salazar, aquela que fazia sucesso pela Europa através das mãos do amigo italiano Guido Batelli....ali , naquela casa, Florbela começou a murchar, como as flores de suas poesias....entrou em devaneios...quase não se alimentava....

Mas quem foi, afinal , essa mulher? Nem ela sabia....


EU

Eu sou a que no mundo anda perdida
Eu sou a que na vida não tem norte...
Sou irmã dos sonhos e dessa sorte,
sou a crucificada, a dolorida....

Sombra de névoa, tênue, esvaecida...
E que o destino amargo, triste e forte
Impele, brutalmente, para a morte...
Alma de luto, sempre incompreendida!
Sou aquela que passa e ninguém vê.
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou aquela que chora sem saber porquê!

Sou talvez a visão que alguém sonhou...
Alguém que veio ao mundo para me ver
Mas que nunca na vida me encontrou...
Essa mulher foi capaz de amar intensamente, na poesia e na vida...

Sofrer...com toda sua aparente fragilidade, tinha um temperamento forte.Era teimosa e vaidosa.Não tinha uma beleza nos parâmetros da época. De estatura pequena, chamava a atenção por usar roupas, chapéus e ostentar jóias....Quem conviveu com Florbela a descrevia como petulante , até.

Mas possuía amigas no meio literário. Natália Correa, outro grande nome da literatura portuguesa, que prefaciou o livro DIARIO DO ÚLTIMO ANO de Florbela, esta , a conhecia muito bem.
Florbela viajava muito , mas sempre que podia , refugiava-se na região do Alentejo....
Voltada às raízes , descrevia com magia e carinho as terras portuguesas...
Sem dúvida, era grande seu amor por Portugal.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A ADOLESCENTE FLOR DAS CHARNECAS


FLORBELA cresceu em meio às charnecas floridas de Vila Viçosa, onde corria em brincadeiras com seu irmãozinho Apeles. Ela tinha pelo irmão uma paixão muito grande. Eram unidos, filhos da mesma mãe que os abandonou , morrendo cedo. Logo, Florbela tornou-se uma linda jovem, estudiosa , quando seu pai e sua madrinha resolveram mudar-se para Évora. Lá, Florbela começaria a cursar o Liceu de Letras e seu pai poderia exercer suas atividades como fotógrafo profissional. A família Espanca era de classe média alta. O pai de Florbela foi perseguido, várias vezes, pela ditadura de Salazar. Em meio a esse ambiente , Florbela cresceu em formosura, inteligência e com ares de soberania e liberdade . Porém, na época, a mulher era submissa e devia se por em seu lugar de dona de casa e esposa. Mas a jovem Florbela queria mais, muito mais....Romântica, sonhadora, cultivava também uma tristeza muito grande dentro de si, sentimentos revelados em suas poesias e sonetos. Não se tem idéia de quando conheceu o primeiro amor, mas retratava-o de forma sensual e romântica , até demais, para a época.


A FLOR DO SONHO (do Livro de Mágoas)


A flor do sonho alvíssima,divina

Miraculosamente abriu em mim,

Como se uma magnólia de cetim

Fosse florir num muro todo em ruína.


Pende em meu seio a haste branda e fina.

E não posso entender como é que, enfim,

Essa tão rara flor abriu assim!...

Milagre...fantasia...ou talvez,sina...


Ó flor, que em mim nasceste sem abrolhos,

Que tem que sejam tristes os meus olhos

Se eles são tristes pelo amor de ti?!...


Desde que em mim nasceste em noite calma,

Voou longe a asa da minh´alma

E nunca , nunca mais eu me entendi ...


E Florbela realmente nunca se entendeu . Nem como mulher, nem como pessoa....Seus sentimentos ora eram confusos, ora de uma vontade de fazer o mundo mudar... ora, de , simplesmente, sair desse mundo, através da morte.



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SEMANA FLORBELA ESPANCA




INICIAREMOS HOJE, DIA PRIMEIRO DE DEZEMBRO , UMA SEMANA DE HOMENAGENS À POETA PORTUGUESA FLORBELA ESPANCA, QUE NASCEU AOS OITO DE DEZEMBRO DE 1894 E FALECEU NO DIA DO SEU ANIVERSÁRIO , EM 1930, AOS 36 ANOS DE IDADE.




FLORBELA DE ALMA DA CONCEIÇÃO ESPANCA, NATURAL DE VILA VIÇOSA, REGIÃO DO ALENTEJO, EM PORTUGAL, ERA FILHA ESPÚRIA DE UMA UNIÃO DE INTERESSES. SEU PAI, CASADO , CUJA ESPOSA NÃO PODIA CONCEBER, TOMOU A EMPREGADA MARIA LOBO E COM ELA TEVE DOIS FILHOS: FLORBELA E APELES.


A ESPOSA DE SEU PAI OS CRIOU COMO FILHOS. E ERA MADRINHA DE FLORBELA.

ESSA, DESDE PEQUENINA, AOS SETE ANOS, COMPÔS SEU PRIMEIRO POEMA, "A VIDA E A MORTE".

FLORBELA SEMPRE FORA UMA MENINA INTELIGENTE, MAS ARREDIA. BEM CUIDADA, EDUCADA, SEUS POEMAS TRADUZIAM UM INFELICIDADE MUITO GRANDE PARA UMA CRIANÇA DE TENRA IDADE.


A VIDA E A MORTE

O QUE É A VIDA E A MORTE


AQUELLA INFERNAL ENIMIGA


A VIDA É O SORRISO


E A MORTE DA VIDA A GUARIDA.






A MORTE TEM OS DESGOSTOS


A VIDA TEM OS FELIZES


A COVA TEM AS TRISTEZAS


E A VIDA TEM AS RAÍZES




A VIDA E A MORTE SÃO


O SORRISO LISONJEIRO


E O AMOR TEM O NAVIO


E O NAVIO O MARINHEIRO.



COM ESSE POEMA, HOMENAGEAMOS FLORBELA EM SEU PRIMEIRO DIA .....