quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A MULHER FLORBELA




FLORBELA casou-se muito jovem, pela primeira vez. Foi casada por tres vezes e não foi bem sucedida nos matrimônios. A mulher Florbela enxergava o casamento como uma posse, do marido sobre a esposa, e não concordava com isso. Teve dois abortos espontaneos. Ainda muito jovem, descobriu que tinha um problema de esclerose. A partir da morte de seu querido irmão, num acidente aéreo, ela passa a ter problemas de depressão. Embora fosse a primeira mulher a cursar a Faculdade de Direito , em Lisboa, ser professora e tradutora de francês, escritora em diversos jornais e revistas da época, Florbela tentou, sem êxito, fazer sucesso com dois livros: O LIVRO DE MÁGOAS e SÓROR SAUDADE.


Era ainda motivo de chacotas pelos homens , que a chamavam de DON JUAN DE SAIAS, devido ao seu linguajar pouco comportado para uma senhora da sociedade portuguesa , não bastasse o fato de ser uma mulher descasada. Corriam comentários até de seu amor pelo irmão, ou talvez, um amante escondido , referido nas várias poesias que escreveu.


Ao irmão, dedicou a obra Máscaras do Destino, livro de contos publicado após sua morte, em 1931.
Escrevia cartas aos amigos, confidenciando suas amarguras....acervo esse que foi encontrado postumamente, em casa de seu último marido, o médico Mário Lage. Alias, foi ele quem cuidou de Florbela na sua doença e também quando ela veio a se recolher, por um ano, em sua casa de Matosinhos, perto do mar.

Lá, a mulher que declarara guerra ao machismo com seu comportamento irreverente, suas obras feministas que a levaram a ser perseguida pelo regime ditatorial de Salazar, aquela que fazia sucesso pela Europa através das mãos do amigo italiano Guido Batelli....ali , naquela casa, Florbela começou a murchar, como as flores de suas poesias....entrou em devaneios...quase não se alimentava....

Mas quem foi, afinal , essa mulher? Nem ela sabia....


EU

Eu sou a que no mundo anda perdida
Eu sou a que na vida não tem norte...
Sou irmã dos sonhos e dessa sorte,
sou a crucificada, a dolorida....

Sombra de névoa, tênue, esvaecida...
E que o destino amargo, triste e forte
Impele, brutalmente, para a morte...
Alma de luto, sempre incompreendida!
Sou aquela que passa e ninguém vê.
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou aquela que chora sem saber porquê!

Sou talvez a visão que alguém sonhou...
Alguém que veio ao mundo para me ver
Mas que nunca na vida me encontrou...
Essa mulher foi capaz de amar intensamente, na poesia e na vida...

Sofrer...com toda sua aparente fragilidade, tinha um temperamento forte.Era teimosa e vaidosa.Não tinha uma beleza nos parâmetros da época. De estatura pequena, chamava a atenção por usar roupas, chapéus e ostentar jóias....Quem conviveu com Florbela a descrevia como petulante , até.

Mas possuía amigas no meio literário. Natália Correa, outro grande nome da literatura portuguesa, que prefaciou o livro DIARIO DO ÚLTIMO ANO de Florbela, esta , a conhecia muito bem.
Florbela viajava muito , mas sempre que podia , refugiava-se na região do Alentejo....
Voltada às raízes , descrevia com magia e carinho as terras portuguesas...
Sem dúvida, era grande seu amor por Portugal.

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