segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A AMANTE DO AMOR INCERTO








FLORBELA apresentava predicados contraditórios: ora se dizia a virgem, a castelã, irmã Sóror Saudade, a casta , a pura; ora era a caçadora, a mulher voluptuosa cheia de sedução e sensualidade que falava na morte, em trevas e luz ....

Causava-lhe repulsa o casamento, a posse do macho sobre a fêmea , a qual achava brutal. No entanto, teve tres casamentos mal-sucedidos. Em uma carta a sua amiga Júlia Alves escreve:

"Acho o casamento uma coisa revoltante! E isot por uma única razão, mas que prá mim é tudo, para mim e para aquelas mulheres que não são apenas fêmeas, para todas as delicadas., para todas que tem pudor , espírito e consciência. Essa razão éa posse suprema e grande lei da Natureza que, no entanto, revolta tudo quanto tenho de delicado e bom no íntimo da minha alma."

Não posso deixar de lembrar que Florbela nutria uma grande paixão, quase incestuosa, pelo irmãoApeles, mas que nunca ficou comprovada , a não ser o que se depreende de seu livro Máscaras do Destino e algumas poesias e cartas. No entanto, Florbela que sempre procurou o amor , incessantemente, praticamente morreu junto com o irmão. Desde a morte brutal de Apeles, ela passou a piorar o estado de saúde e a se recolher ....

A sua índole dianesca à caça, traduz bem a dualidade sedução-castidade, flagrante em sua poesia: "Para que os corpos vis te não desejem,
Hei-de dar-te o meu corpo e a boca minha
Prá que bocas impuras te não beijem..."

CASTELÃ DA TRISTEZA ( do livro de Mágoas)

Altiva e couraçada de desdém
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor...
E nunca em meu castelo entrou alguém!
Castelã da Tristeza, vês?...A quem?!...
- E o meu olhar é interrogador -
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr...
Chora o silêncio ...nada...ninguém vem...
Castelã da Tristeza, por que choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
A sombra rendilhada dos vitrais?...
À noite, debruçada pelas ameias,
Por que rezas baixinho ? Por que anseias?...
Que sonhos afagam tuas mãos reais?
E a mulher voluptuosa, escondida por detrás da pura, casta....

"No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
( soneto VOLÚPIA do livro CHARNECA EM FLOR)
Afinal, quem foi Florbela Espanca? Uma mulher obstinada , feminista, à procura do amor perfeito, ou uma enclausurada em suas paixões poéticas, amores platônicos, ou talvez, escondidos, que só viriam à tona nas palavras de amor de seus sonetos?
Teria ela contado em seus versos a sua vida, exposto seu íntimo, ou apenas o fez para chamar a atenção de uma sociedade que não dava importância às mulheres?
Bela, como a chamavam os íntimos, era doce ou uma muher que vestia máscara?
Não foi feliz e buscava na morte, sua companheira ideal , talvez a vida que gostaria de ter vivido na sua terra, ao lado do irmão, ou do seu amante, figura até então desconhecida....
QUEM PODE ENTENDER A ALMA DOS POETAS?

Nenhum comentário: