sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

FLORBELA, A INCOMPREENDIDA




"O MEU TALENTO! DE QUE ME TEM SERVIDO? NÃO TROUXE NUNCA ÀS MINHAS MÃOS VAZIAS A MAIS PEQUENA ESMOLA DO DESTINO. ATÉ HOJE NÃO HÁ NINGUÉM QUE DE MIM SE TENHA APROXIMADO QUE NÃO ME TENHA FEITO MAL. TALVEZ CULPA MINHA, TALVEZ...O MEU MUNDO NÃO É COMO O DOS OUTROS; QUERO DEMAIS, EXIJO DEMAIS; HÁ EM MIM UMA SEDE DE INFINITO, UMA ANGÚSTIA CONSTANTE QUE NEM EU MESMA COMPREENDO, POIS ESTOU LONGE DE SER UMA PESSIMISTA; SOU ANTES UMA EXALTADA, COM UMA ALMA INTENSA, VIOLENTA, ATORMENTADA, UMA ALMA QUE SE NÃO SENTE BEM ONDE ESTÁ, QUE TEM SAUDADES...SEI LÁ DE QUÊ!"

(Palavras de um auto-retrato de Florbela.)

Florbela, a figura feminina mais importante da Literatura Portuguesa, tinha em suas poesias exacerbados impulsos eróticos e uma sensibilidade que corresponde a um diário íntimo.
Escreve sobre o amor, sempre o amor...que a ludibriou: "Procurei o amor que me mentiu....",e esperava e exigia muito mais da vida : "...pedi a vida mais do que ela dava...".

Ela só tinha uma certeza: queria amar e ser amada.

Essa alma inquieta desde a infância, talvez por ser filha ilegítima, deu-lhe forças para mostrar ao mundo a alma verdadeira de uma mulher. Ela não teve freios: de filha só reconhecida após a própria morte, de esposa abandonada por não ser fértil, de irmã apaixonada , poetisa não reconhecida em seu meio, recolheu de tudo um pouco para trazer à baila os limites do sublime...do AMOR!

EM VÃO ( do livro RELIQUIAE)

Passo triste na vida e triste sou
Um pobre a quem jamais quiseram bem!
Um caminhante exausto que passou,
Que não diz onde vai nem donde vem.

AH! Sem piedade, a rir, tanto desdém
A flor da minha boca desdenhou!
Solitário convento onde ninguém
A silenciosa cela procurou!
E eu quero bem a tudo, a toda gente!...
Ando a amar assim, perdidamente,
A acalentar o mundo nos meus braços!
E tem passado, em vão, a mocidade
Sem que no meu caminho uma saudade
Abra em flores a sombra dos meus passos!








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