domingo, 6 de dezembro de 2009

MEUS AIS: FADO E PORTUGAL!

CASA ONDE VIVEU BOA PARTE DE SUA VIDA EM ÉVORA


REGIÃO DAS CHARNECAS, SOLO ÁRIDO E PLANTAS RASTEIRAS


FLORBELA não apenas escrevia para e sobre o o amor, a morte, a angústia....como boa filha de Portugal, amava os lugarejos onde nasceu, viveu , para onde viajava em seus momentos íntimos ...e adorava o fado, a quem tinha como a canção dos desesperados, um amigo....


O FADO (do livro TROCANDO OLHARES)

Corre a noite, de manso, num murmúrio,
Abre a rosa bendita do luar...
Soluçam ais estranhos de guitarra...
Oiço,ao longe, não sei que voz chorar...
Há um repoiso imenso em toda terra,
Parece a própria noite a escutar ...
E o canto vai subindo e vai morrendo
Num anseio de saudade a palpitar!
É o fado . A canção das violetas:
Almas de tristes, almas de poetas,
Pra quem a vida foi uma agonia!

Minha doce canção dos deserdados,
Meu fado que alivias desgraçados,
Bendito sejas tu! Ave-Maria!...


Apaixonada pela terra onde nasceu, as charnecas de Vila Viçosa, Florbela sentia-se próxima ao campo, pois ele lhe trazia a liberdade que ela tanto buscava, nos sonhos, na poesia ... Por vezes, depreende-se que Florbela se misturava à própria paisagem , numa identidade única.

CHARNECA EM FLOR ( soneto que deu título ao livro)

Enche o meu peito , num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou , Amor, Soror Saudade ...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto , a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

ALENTEJANO

Deu agora meio-dia; o sol é quente
Beijando a urze triste dos outeiros .
Nas ravinas do monte andam ceifeiros,
Na faina, alegres , desde o sol nascente.
Cantam as raparigas meigamente.
Brilham os olhos negros, feiticeiros .
E há perfis delicados e trigueiros
Entre as altas espigas d ´oiro ardente.
A terra prende aos dedos sensuais
A cabeleira loira dos trigais
Sob a bênção dulcíssima dos céus.

Há gritos arrastados de cantigas ...
E eu sou uma daquelas raparigas ...
E tu passas e dizes : "Salve-os Deus! "
( retirado do livro SOROR SAUDADE)

Um comentário:

Dalva Nascimento disse...

A mais bela Flor do Alentejo recebe mais uma justa homenagem! Amo Florbela!

Bjs.